A Golo FM assinalou a data ao entrevistar o realizador da estação televisiva que transmitiu o jogo.
O Vitória SC – Benfica da 19ª jornada da SuperLiga Portuguesa 2003/2004 tinha tudo para ser um grande jogo, mas à passagem do minuto 91, todas as questões futebolísticas foram colocadas de parte com um incidente que ainda hoje nos traz das piores recordações já vividas num relvado do nosso país.
Tendo feito uma assistência para o golo de Fernando Aguiar, o único do jogo, minutos antes, Miklós Fehér foi o centro das atenções pelos piores motivos. Já no tempo de compensação tentou travar um contra-ataque do Vitória ao impedir um lançamento lateral, vendo cartão amarelo por parte do árbitro Olegário Benquerença.
O resto, todos sabemos. Fehér, tal qual a sua imagem de marca, sorriu, compreendendo a ação disciplinar que lhe acabava de ser imposta, imediatamente antes de colocar as mãos nos joelhos e cair desgovernado e sem consciência no relvado em Guimarães.

As tentativas de auxílio por parte dos jogadores em campo foram instantâneas, de ambas as equipas, até que segundos mais tarde as equipas médicas (incluindo os bombeiros e os desfibrilhadores) também chegaram ao húngaro.
Tentativas de reanimação foram várias, mas todas sem sucesso, num processo que começou ainda durante o jogo, e que apenas terminou três horas depois, já no hospital. Enquanto isso, muitos eram os que se ajoelhavam, os que rezavam, e quase todos, os que choravam no palco da partida.
Este processo foi acompanhado com uma intensidade monumental pelo realizador, Ricardo Espírito Santo, que naquele dia pensava ter apenas mais um jogo, e mais uns quantos planos de um bom encontro, mas que acabou como o dia mais difícil que já teve a nível profissional.

Em entrevista concedida à Golo FM, Ricardo descreve o que aconteceu no preciso momento do incidente.
Um ser humano como os outros, apesar de ter a missão de continuar o seu trabalho e de fazer chegar a transmissão que viam milhares, senão milhões de pessoas, às casas dos portugueses e adeptos de futebol em todo o mundo em direto, Ricardo Espírito Santo relata as suas emoções no momento da queda de Miklós Fehér.
Como em tudo, qualquer ação tem consequências, e o realizador deste jogo conseguiu ter a cabeça fria para fazer o correto num momento em que as emoções abundam, e por isso, foi premiado, noticiado e recebeu até um louvor da Assembleia da República nos dias seguintes.
Numa declaração final, Ricardo Espírito Santo resume muito bem a situação, com apenas duas frases e em apenas quatro segundos.
Miki Fehér, natural de Tatabánya, na Hungria, nasceu em 1979 e deixou-nos com apenas 24 anos, vítima de um ataque cardíaco no Estádio D. Afonso Henriques.
Formado no Gyori ETO do seu país natal, chegou a Portugal para jogar no FC Porto, tendo chegado à equipa principal dos dragões (com empréstimos para Salgueiros e Braga pelo meio) antes de rumar ao Estádio da Luz para ser jogador do Benfica.
Apesar de ter jogado em dois grandes rivais, Fehér faz o que todas as lendas fazem, fazer esquecer rivalidades, e também por isso, sentimos saudades suas, há já 19 anos.